terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O Orisá Polêmico- ESÚ.



Esu - Um Orisá muito polêmico
Odu Okanran
Esu – Um Orisá muito polêmico
Atoto arere. Ifá fe f’oun e dake:
Orunmilá e Esu eram amigos, mas disputavam entre si o poder.
Houve uma guerra na cidade e Ajala Eremi. Tendo isso chegado ao conhecimento de Esu, por seus seguidores que invocavam-no e pediam sua ajuda, ele correu a Orunmilá para contar a novidade.
Orunmilá ficou curioso de saber como Esu já sabia da guerra, uma vez que a cidade era longe e parcos os recursos.
Esu, muito vaidoso, disse saber tudo, em virtude de seus poderes, e completou – “vamos lá salvá-los”.
Viajaram juntos, e chegando a Ajala Eremi, ajudaram o povo a vencer a guerra, e foram reverenciados e louvados.
Na volta, Esu disse a Orunmilá – “você vai ver, a minha magia é maior que a sua”.
Orunmilá riu, disse que seus poderes eram bem maiores, e disse também:
“Ki okunrin ma to ato rin
Ki obinrin ma to ato rin
Ki awo eni ti aso re yio rin”.
“O homem fica em pé e urina andando
A mulher fica em pé e urina andando
Vamos ver a roupa de quem fica molhada primeiro”
Com essas palavras ele desafiou Esu.
Caminharam muito até que anoiteceu, e pararam em Ileto, pequena cidade baale (aldeia pobre). Orunmilá pediu aos mais velhos pousada por uma noite para ambos.
O Rei permitiu que dormissem e determinou em que casa ficariam. No meio da noite, estando Orunmilá dormindo, Esu acordou bruscamente.
Esu saiu para o pátio, foi ao local onde as galinhas dormiam, agarrou o galo pelos pés, torceu-lhe o pescoço, arrancou-lhe a cabeça e enfiou no bolso. Fez uma ótima e solitária refeição com a carne e alguns inhames, pimentas, tomate e cebolas que achou nos campos, temperou tudo com óleo dendê, bebeu vinho de palma e completou com litros e litros de água fresca.
Voltando à casa, chamou Orunmilá, e disse – “vamos embora depressa”. Orunmilá acordou estremunhado, e ainda tonto, achou que era de manhã, e seguiu com Esu pela estrada como bons amigos.
Em Ileto, assim que amanheceu, descobriram a morte do galo, a fuga dos hóspedes e o povo, revoltado, decidiu perseguí-los. Juntaram os Ode (soldados). Correram atrás de Esu e Orunmilá e alguém lembrou que Esu usava uma roupa de búzios (símbolo de magia).
Esu sabia que o povo de Ileto e os soldados vinham em sua perseguição. Olhava para trás e ria. Falou a Orunmilá – “o povo vem aí, traz lanças, facas e soldados. Mostra a força de sua magia agora”. Orunmilá, sempre muito calmo, disse a Esu – “a mim não pegam. Eu adivinho que você matou o galo, e comeu-o, porque o sangue pinga de seu bolso”. E disse:
“A ki gbo iku a fibi oba as”
“Não se pode ter má notícia. Ela não morre”.
Depois de proferir estas palavras mágicas, Orunmilá disse a Esu – “agora você dá a solução”.
Esu sugeriu que subissem em uma árvore sagrada (ikin), de cuja madeira são feitos instrumentos para o culto, e esperassem para ver os Ode passarem. Os soldados e o povo viram o sangue, e revistando a árvore acharam Esu lá em cima junto com Orunmilá. Alguns ficaram de guarda à árvore, enquanto outros foram buscar machados e facões para derrubá-la.
Quando começaram a cortar a árvore, Esu riu e disse a Orunmilá – “é agora! Vamos cair os dois, faça a sua magia, eu faço a minha e veremos qual o poder maior”.
A árvore caiu. Orunmilá se enterrou no chão e virou água. Esu bateu no chão e virou pedra.
O povo e os Ode procuraram e não acharam ninguém. O lugar virou uma grande confusão, com todos gritando e se acusando mutuamente.
Os que estavam sedentos, viram a água que era Orunmilá, beberam dela e se acalmaram.
Os que estavam cansados sentaram na pedra que era Esu e ficaram agitados.
E daí para frente, dois tipos de pessoas se criaram no mundo, os calmos e os agitados. E todos que jogam Ifá (antigo sistema yorubá de adivinhação), tem que cultuar Esu e Orunmilá.
Odu Okanran.

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